8/03/2006


O palhaço do circo sem futuro

Sou fascinado pela figura do palhaço. Sou palhaço assumido mesmo. Perguntam-me a razão desse fascínio, vez por outra. O palhaço é uma criatura misteriosa, e a despeito do que se pensa, nem sempre engraçada. Sempre me pareceu triste ter que fazer rir em qualquer situação. Fingir alegria para entreter desconhecidos para quem pouco importa seu sentimento, sua vida, sua morte. A incógnita do rosto coberto de tinta, das roupas espalhafatosas e da atitude de louco, contrastando com o cotidiano de homem normal, que sofre, sente, ama e chora como qualquer um de nós.
Acho que somos todos palhaços, dentro ou fora do circo. Ou ainda que a própira vida é o circo, picadeiro maior onde encenamos nossos dramas e nos tornamos mágicos, trapezistas, domadores e, acima de tudo, palhaços.
Somos palhaços quando mal-atendidos no banco, no restaurante, na fila do INSS ou no trabalho. Quando ligamos a TV e vemos toda a baboseira que nos despejam sobre a cabeça. Quando somos abordados por "Pastores" de qualquer religião que nos pedem dinheiro em nome de um deus. Quando deixamos de exercer nossos direitos por vergonha ou apatia de reclamá-los. Somos palhaços quando amamos. Quando não amamos. Quando tentamos ajudar o próximo e quando não tentamos. Somos palhaços quando temos medo de coisas pequenas, ou quando fingimos não sentir medo. Somos sempre palhaços.
Mas que ninguém pense que ser palhaço é ruim. A graça e a beleza de um palhaço são incomparáveis. Tenho muito orgulho de ser palhaço. Um palhaço de palavras e sentimentos, que mesmo quando chora, faz com que alguém sorria. Pode existir palhaço maior que um poeta...?

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